O termo “metais pesados” é uma definição ambígua, mas a literatura científica destaca-os como um grupo de elementos químicos amplamente associados a poluição, contaminação e toxicidade. De um modo geral, os metais pesados são definidos como elementos químicos que possuem densidade superior a 6 g/cm3 ou raio atómico maior que 20, altamente reactivos e bioacumuláveis, ou seja, acumulam-se nos órgãos e tecidos dos organismos vivos, os quais não os conseguem eliminar. Deste modo, quando lançados no ambiente (água, solo ou atmosfera) como resíduos ou efluentes industriais, esses elementos podem ser absorvidos pelos animais e vegetais provocando graves intoxicações ao longo da cadeia alimentar. O consumo habitual de água e alimentos contaminados com metais pesados coloca em risco a saúde humana.
Chlorella para desintoxicar o corpo dos metais pesados. Leia aqui
Destacam-se as intoxicações provocadas pelo chumbo, mercúrio, cádmio, crómio, arsénio e manganês.
Chumbo (Símbolo químico: Pb)
O chumbo um elemento extremamente nefasto quando absorvido pelo organismo através da pele, vias respiratórias ou ingestão de água e alimentos contaminados, a via de exposição mais comum.
A legislação em vigor em Portugal define que nas águas destinadas ao consumo humano a concentração máxima admitida de chumbo é de 25μg/L (Decreto-Lei n.º 306/2007, de 27 de Agosto).
Causas
O chumbo pode ocorrer de forma natural no ar, nos solos e na água, e em todos os organismos vivos.
Nas antigas canalizações de chumbo, devido à corrosão provocada por água ligeiramente ácida, o chumbo transfere-se para a água potável e é consumido pelo homem directamente ou através dos alimentos. Durante o Império Romano, as canalizações de chumbo que transportavam a água potável foram a causa das intoxicações que conduziram à demência que afectou alguns imperadores romanos.
Hoje em dia, além da substituição das canalizações, os sistemas de tratamento de águas públicas ajustam o pH das águas para uso doméstico para evitar a corrosão de canos em chumbo que possam existir.
Antes da introdução da gasolina sem chumbo, as emissões provenientes do tráfico automóvel nas áreas urbanas eram responsáveis pela emissão de elevadas quantidades de chumbo para a atmosfera. Actualmente, este foco de poluição é residual, mas as emissões provenientes da indústria e fundição, continuam a verificar-se, embora as redes de qualidade do ar geralmente não façam medições a este poluente. Em Portugal a medição do chumbo é apenas realizada nas estações de qualidade do ar da cidade do Porto. Nos últimos anos, têm acontecido episódios de contaminação pelo chumbo, especialmente crianças, em alguns países em vias de desenvolvimento, como a China, com origem em poluição industrial (fundições), sem as mínimas preocupações pelo ambiente e saúde pública.
São também frequentes os casos de intoxicação por chumbo (saturnismo) em outros seres vivos, sobretudo nas aves de rapina e aves aquáticas, como os patos, galeirões e galinhas-d’água. Esta contaminação tem como origem a ingestão das esferas de chumbo, provenientes dos tiros dos caçadores que, no meio natural, demoram 50 a 300 anos a decompor-se totalmente. As consequências da intoxicação são a diminuição da capacidade reprodutora e, muitas vezes, a morte das aves. Em Portugal ainda não existe legislação que obrigue à interdição do uso de chumbo nas zonas mais importantes para as aves aquáticas cinegéticas, como as zonas húmidas nacionais abrangidas pela convenção RAMSAR. No entanto, em algumas zonas de caça, os caçadores são incentivados a utilizar voluntariamente «cartuchos ecológicos», sem chumbo.
Sintomas
A exposição ao chumbo pode causar anemia, doenças renais, disfunções reprodutivas, perturbações neurológicas (como atraso mental ou alterações do comportamento). Mesmo em doses relativamente baixas, o chumbo está associado a alterações no desempenho das enzimas, transferência de energia e outros processos de funcionamento do corpo humano. As crianças são especialmente susceptíveis, pois o chumbo afecta o sistema nervoso central e o normal crescimento.
Mercúrio (Símbolo químico: Hg)
O envenenamento por mercúrio e pelos seus compostos, em especial o metilmercúrio, ocorre principalmente por ingestão. Dado que estes se acumulam nos tecidos vivos, são facilmente transmitidos através da cadeia alimentar.
No nosso país, a concentração máxima recomendada de mercúrio nas águas para consumo humano é de 50 mg mg/L (Decreto-Lei n.º 306/2007, de 27 de Agosto).
Causas
O mercúrio pode ter origem natural, nas zonas com actividade vulcânica, ou antropogénica, quando resulta da exploração de depósitos minerais, da actividade extractiva do ouro, dos resíduos originados das indústrias cerâmica, têxtil, farmacêutica e química, da queima de carvão e de outros combustíveis fósseis, etc.
Muitas pessoas são, continuamente, afectadas pela poluição de mercúrio de rios, lagos, e oceanos, através de descargas industriais. Em 1956, na localidade de Minamata (Japão), muitos dos seus habitantes ficaram doentes com sintomas de degeneração do sistema nervoso que ficou conhecida como a Doença de Minamata. Hoje sabe-se que o envenenamento por mercúrio foi a causa. Entre 1932 e 1968, o mercúrio era lançado na Baía de Minamata pela empresa petroquímica Chisso que se acumulou nos peixes e moluscos que entravam na dieta alimentar da população local.
Sintomas e efeitos
A exposição ao mercúrio e os seus compostos é tóxica e afecta em particular o fígado, os rins e o cérebro. Os sintomas incluem tremores, fadiga, depressão, perda de memória, irritabilidade, alucinações, paralisia cerebral, cegueira, surdez e, em casos extremos, a morte. O mercúrio afecta o desenvolvimento do feto nas primeiras semanas de gravidez.
Cádmio (Símbolo químico: Cd)
O cádmio pode encontrado de forma natural no ar, na água, no solo e nos alimentos e encontra-se frequentemente ligado a outros elementos, como oxigénio, cloro ou enxofre, formando compostos. Nas águas naturais, está presente em pequenas concentrações, geralmente inferiores a 0,001 mg/L. Em Portugal, a concentração máxima de cádmio admitida em águas de consumo humano é de 5,0 μg/L (Decreto-Lei n.º 306/2007, de 27 de Agosto).
O cádmio é extraído nas minas de zinco e é utilizado para a produção de baterias (cerca de 75% da matéria-prima extraída) e para a produção de pigmentos e plásticos.
Causas
O cádmio é tóxico para os seres humanos e animais, em elevadas concentrações. A exposição ao cádmio ocorre geralmente por via oral, através da ingestão de água e alimentos contaminados, ou por inalação de fumo (os fumadores são os mais expostos ao cádmio).
A Doença de Itai-Itai foi a denominação dada ao envenenamento de centenas de pessoas por cádmio ocorrido no Japão junto ao Rio Jintsu em 1912. A causa da doença foi oficialmente reconhecida em 1968.
Sintomas e efeitos
Os sintomas de intoxicação por cádmio incluem fadiga, perda de peso, fraqueza muscular, arteriosclerose e disfunção sexual. Afecta ainda os rins, pulmões, fígado e ossos e interfere com as enzimas. É altamente carcinogénico.
Crómio (Símbolo químico: Cr)
A forma natural de ocorrência do crómio é a trivalente (Cr(III)) e pode encontrar-se naturalmente na crosta terrestre em rochas, solos, ar e água. Outros compostos de crómio hexavalente (Cr(VI)) são libertados para a atmosfera principalmente por fontes antropogénicas como a indústria (aço e ligas metálicas, pigmentos, acabamentos metálicos, tratamento de couro e preservação de madeira) e a combustão (uso de gás natural, óleos, carvão e incêndios).
O crómio entra no organismo humano, por contacto directo através da pele, inalação de gases e poeiras e ingestão de alimentos ou água contaminada.
Causas
Na água, as elevadas concentrações de crómio são o resultado de descargas derivadas da indústria, em ambas as formas (trivalente e hexavalente), não podendo a última exceder os 50 μg/L na água de consumo humano, de acordo com o Decreto-Lei n.º 306/2007, de 27 de Agosto. Nos produtos alimentares as concentrações de crómio variam entre 5 e 250 mg/kg.
No ar, em espaços de trabalho pouco ventilados, como nas minas ou indústrias, existe uma grande quantidade de poeiras, onde o grau de exposição é muito elevado colocando em risco os trabalhadores.
Sintomas e efeitos
Embora seja um mineral essencial ao funcionamento do organismo humano, quando existe em elevadas concentrações, o crómio é tóxico e provoca irritações de pele, dermatites alérgicas e de contacto, úlceras na pele e carcinomas, irritação das mucosas dos brônquios, tosse, asma e, em casos mais graves, lesões vasculares, tromboses cerebrais e cancro do sistema respiratório.
Arsénio (Símbolo químico: As)
O arsénio é um elemento que aparece normalmente combinado com outros elementos numa variedade de formas orgânicas e inorgânicas na Natureza. Em grandes concentrações é tóxico e a dose letal média de arsénio para o Homem é de 0,07 g/kg.
De acordo com legislação nacional em vigor, a quantidade máxima de concentração de arsénio na água não pode ultrapassar os 10 μg/L (Decreto-Lei n.º 306/2007, de 27 de Agosto).
Causas
O arsénio pode surgir solúvel na água de consumo humano, tendo origem nas nascentes ou como resultado de poluição da indústria química que o utiliza para a produção de pesticidas e herbicidas, por exemplo.
O arsénio protagonizou o maior envenenamento massivo da História. No Bangladesh, cerca de 85 dos 125 milhões de habitantes daquele país, foram contaminados com arsénio inorgânico das suas fontes de abastecimento de água para consumo humano, derivado de pesticidas e fertilizantes utilizados na agricultura.
Sintomas e efeitos
O arsénio e seus compostos, principalmente os inorgânicos, são altamente tóxicos quando inalados, ingeridos ou absorvidos por via cutânea. Os sintomas de intoxicação incluem vómitos, náuseas, vertigens, diarreia ou obstipação ou ambas alternadamente, entorpecimento dos membros, vasodilatação e necrose das extremidades, lesão do miocárdio, hiperqueratoses, problemas de fígado, baço ou rins e diversos tipos de cancro (boca, esófago, laringe, pele, pulmão).
Manganês (Símbolo químico: Mn)
O manganês é um dos elementos mais abundantes na crosta terrestre e encontra-se largamente distribuído em solos, sedimentos, rochas, água e materiais biológicos. O manganês, em pequenas quantidades, é essencial para o ser humano. No entanto, quando presente no organismo em elevadas quantidades pode causar efeitos tóxicos a nível do fígado e sistema nervoso central.
A absorção do manganês no corpo humano ocorre pela via inalatória (mais importante) ou pela gastrointestinal.
Nas águas para consumo humano, a concentração máxima admitida por lei é de 50 μg/lL (Decreto-Lei n.º 306/2007 de 27 de Agosto)
Causas
As fontes antropogénicas de manganês são a indústria metalúrgica; a extracção mineira; a produção e uso de fertilizantes, fungicidas, tintas e vernizes; o fabrico de pilhas; e a produção de vidros, cerâmica e produtos farmacêuticos.
Sintomas e efeitos
Os sintomas de intoxicação pelo cádmio são excitação psicomotora, irritabilidade, défice de memória, insónia, dificuldade de concentração, anorexia, perturbações do discurso, diminuição da libido, alucinações, delírios e comportamento compulsivo. Os idosos e crianças são os grupos de maior risco para a exposição a este metal.