Esta semana comemorou-se o Dia Mundial do Meio Ambiente. O Planeta Terra é um bem precisoso que temos e cabe a nós tomar algumas medidas no nosso dia-a-dia, incluíndo nas nossas escolhas alimentares, para tornar um nosso planeta um pouco melhor e que nos permita viver mais anos nele.
Com o aumento da população mundial, da urbanização e dos rendimentos nos últimos anos, grandes alterações nos hábitos alimentares aconteceram, nomeadamente em relação ao consumo de alimentos de origem animal, que ainda não parou de crescer. Como consequência, a indústria alimentar intensificou a agricultura e a produção animal em massa, exercendo uma grande pressão no ambiente, com consequências para este.
Estudos concluíram que o sistema de produção alimentar é o que contribui mais, com cerca de 20-30%, para a emissão de gases de estufa, desflorestação, diminuição da biodiversidade, utiliza 70% de água e o principal poluidor da mesma.
Segundo a FAO- Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura -, uma dieta sustentável é uma dieta “com baixo impato ambiental, que protege e respeita a biodiversidade e o ecossitema, seja culturalmente aceite, acessível, económica”. Ainda, “nutricionalmente adequada, segura e saudável.”
Selecionámos algumas estratégias que podemos facilmente implementar no nosso dia a dia e modo a fazer a diferença:
- Preferir produtos nacionais. Os alimentos importados requerem transporte para chegarem até ao nosso país, muitas vezes por via aérea – uma das mais poluentes. Ao escolher produtos locais, por exemplo dos pequenos comerciantes da sua zona, estará não só a reduzir as emissões de gases poluentes, pois o caminho que o alimento faz desde ao seu cultivo até ao seu prato é menor, mas igualmente a ajudar economia local. Respeita ainda a natureza e sazonalidade dos alimentos, e permite que a fruta e os vegetais sejam colhidos perto da sua fase de maturação e assim desenvolvam todos os nutrientes necessários que os enriquecem nutricionalmente.
- Prefira alimentos de origem vegetal. Sabia que a industria de produção de carne é considerada uma das maiores poluentes? E que implica um elevado consumo de água, uso de solo e emissão de gases com efeitos de estufa? O aumento no consumo de produtos de origem animais, tem aumentado os problemas ambientais que advém da sua produção. Ao dar preferência a alimentos de origem vegetal, como por exemplo leguminosas – excelente fonte de proteína e substituto de carne e peixe –, cereis integrais, sementes – ajuda a reduzir a pegada ecológica até 50%.
- Dê preferência a alimentos de produção biológica. Na agricultura comum são utilizados pesticidas e fertilizantes sintéticos em grande escala pois o obtivo é a produção em massa. Além da produção e emissão de gases de estufa, estes têm um grande impato na nossa saúde. Na agricultura biológica, ao contrário, são utilizados adubos naturais, como o estrume dos animais- como fertilizante, reduzindo drásticamente a emissão de gases. Além disso, os alimentos não crescem geneticamente modificados. E, como são produzidos em solos saudáveis, normalmente são produtos que contêm mais vitaminas e minerais. Leia bem os rótulos, informe-se e procure por este tipo de produtos na sua zona.
- Reduza o consumo de carne e aumente as alternativas vegetais desta. A carne é uma excelente fonte de proteína, vitaminas, como a vitamina A e B12 e minerais essenciais – ferro, zinco. No entanto, uma série de estudos têm verificado que uma dieta reduzida em carne e seus derivados (ovos, produtos láteos), não só resulta numa redução na emissão de gases com efeito de estufa, exploração de terras e quantidade de água, bem como numa melhoria da saúde geral. Alguns estudos relacionam o excesso de proteína animal com o consumo de carnes vermelhas e lacticínios a um aumento do risco de doenças cardiovasculares, diabetes e alguns tipos de cancro.
Ainda existe a ideia de que comer de forma saudável é caro e que o ser humano não sobrevive sem carne ou peixe todos os dias, mas é um mito que tem de ser desmistificado. É possível fazer uma alimentação rica, saudável limitando o consumo de carne e peixe a dois dias por semana. As leguminosas- feijão, grão, favas, ervilhas -, muitas vezes esquecidas, entram aqui. Estas são um alimento completo igualmente rico em proteínas, viaminas e minerais assim como fibras, sendo um ótimo substituto do peixe e/ou da carne às refeições. Além de económico- 500 gramas de feijão seco custa cerca de 97 cêntimos e 1 lata de feijão encarnado (800 gramas) custa cerca de 70 cêntimos, por exemplo.
- Prefira a versão integral dos alimentos. Os cereais refinados são um grupo de alimentos com impato negativo no ecossistema ao longo dos anos. Preferir versões integrais – como pão, massa e arroz integrais, resulta num processo mais simples, pois o grão fica interiro, reduzindo assim o impato ambiental, e aumentando o impato positivo sobre a sua saúde.
- Dê preferência a alimentos a granel em vez de embalados. Cada vez mais vemos legumes e frutas embaladas em plásticos. Cada embalagem que levamos junto com os nossos alimentos, depois de usado é lixo, e quanto mais lixo produzimos mais impato negativo estamos a criar no ambiente. Além de mais baratos, os alimentos a granel evitam o acúmulo de lixo. 5º Compre alimentos com embalagens ecológicas Escolher alimentos com embalagens ecológicas, ou mesmo sem embalage, pode ajudar a reduzir a quantidade de metal, papel ou plástico usado nos sistemas de distribuição atuais.
- Consuma os alimentos dentro da sua época. Alimentos disponíveis fora de época são sempre ou importados de fora e aí voltamos à questão do transporte, atrás mencionado, ou são utilizados meios químicos, forçados e não naturais, para ter aquele alimento disponível naquela altura do ano.
Além da escolha sobre o tipo de alimento e o tipo de produção, temos as questões que andam à volta da compra e que podemos também refletir e agir em prol do ambiente, nomeadamente:
O modo como vai às compras – a pé ou de carro. Se costuma ir de carro, quanto menos a distância for, menos combustível consumirá (sendo o carro um dos maiores poluidores que existe – contribuem para a maior quantidade de emissões de dióxido de carbono).
Evite o desperdício. Sabia que quase metade dos alimentos que produzimos é desperdiçado durante o processo, transporte, supermercado e cozinhas? Quando a comia é rejeitada e desperdiçada todo o seu processo de produção, embalamento, é igualmente desperdiçado, incluíndo grandes quantidades de água.
Aproveite as sobras. Existem muitas ideias para poder aproveitar as sobras do dia anterior, tão ou mais saborosas que algumas refeições. Evita assim o desperdício.
Recicle sempre que possível. Reutilize o lixo orgânico – utilize como fertilizante para fertilizar as terras, por exemplo. E recicle, sempre que possível, as embalagens que vêm com os alimentos – cartão, latas, plásticos, garrafas.
Crie a sua própria horta urbana. Ao ter a sua própria horta, sabe exatamente como os alimentos crescem, pois é você que cuida deles. Já existem alternativas adaptáveis que pode usar dentro de casa. Experimente crescer salsa, alface, coentros e outros vegetais.
Todas as nossas escolhas e ações têm consequências. Consequências essas que nos afetam todos, que vivemos neste planeta. Se cada um de nós fizer algumas alterações para que o impato seja menor para que todos vivamos um pouco com mais qualidade, não custa nada e fará uma enorme diferença.
“A responsabilidade é nossa, enquanto consumidores, de sermos a mudança que queremos ver no mundo.”
Autora:
Joana Lewis
Nutricionista Estagiária 2036NE
Referências:
- Aiking H., “Protein production: planet, profit, plus people?”, Am J Clin Nutr.2014 Jul; 100 Suppl 1:483S-9S.
- Climate Change and Food Security: Risks and Responses, Food And Agriculture Organization of The United Nations, 2016.
- Garnett, T., “What is a sustainable healthy diet? A discussion paper”, Food Climate Research Network, April 2014. (http://www.fcrn.org.uk/sites/default/files/fcrn_what_is_a_sustainable_healthy_diet_final.pdf);
- Folhas Equilíbrio Alimentação Sustentável Para Todos, Movimento 2020, Associação Portuguesa de Dietistas. 2015 (file:///C:/Users/ESE%202/Downloads/folhas_equilibrio_alimentacao_sustentavel_para_todos_151015.pdf).